sábado, 20 de outubro de 2007

BAÚ DO TESOURO: A HORA DO PÂNICO

Se existe algo que possa ser dito ao meu respeito, É que fui uma criança medrosa.
Procuro me defender afirmando que era imaginativo e que consequentemente minha pobre mente se tornava um solo fértil para primos mais velhos e tios sádicos, semearem estórias de vampiros, monstros e fantasmas.
Afinal, você não concorda que uma criança, em constantes férias no sitio do avô, na roça, na maior escuridão, numa casa com um maldito relégio de parede naquele tic-tac-tic-tac assombroso, batendo o maldito sino 12 vezes dando a confirmação de meia - noite, ao som de corujas agourentas piando na janela, se torna, sem dúvidas, uma presa fácil do lobisomem?
Eu tinha medo da Cuca, do monstro do armário e dos seres que habitam embaixo da cama. Também tinha medo do homem do saco, da loira do banheiro, do mala-man e de outras lendas urbanas. Tive medo de alma-penada, de aliení­genas, nunca ia ao trem fantasma (para a zoação geral dos familiares) e certa vez morri de medo de ser atacado por índios (essa historia é ótima, qualquer dia eu conto).
Sendo assim, quem experimentou o medo bem sabe o quanto ele pode ser uma pedrosa e eficiente forma de dominação e de controle (sobre isso, assistam o filme "A Vila"). O medo de apanhar muitas vezes é mais brutalizante do que a propria surra.
De muitas formas o medo é implantado em nós, desde de nossa mais tenra infãncia
Alguns casos, como os meus, se tornam piadas depois que se cresce, outros se tornam forma de entretenimento como filmes do Chuk, "€œo brinquedo assassino"€ (a noiva do Chuk já é comédia, ok? Pior que isso, é o cartaz que vi na última vez que fui ao cinema: "€œO Filho de Chuck" - EM BREVE) e alguns medos viram música do Belchior (“...foi com medo de avião... ). Mas de todos os medos que se incutem no homem, sem sombra de dúvidas o mais nocivo, o mais prejudicial é o medo de Deus.
Talvez algum dia tenham pensado que o medo de Deus nos livraria do pecado. Nos ensinaram de forma dramática que tudo o que fazemos Deus está vendo, espreitando, para em seguida nos castigar. Aprendemos que não importa onde vamos, lá estará Deus a nos monitorar com olhar acusador, nos vigiando como quem assiste a um Big Brother 24 horas.
A consequência desse tipo de educação desastrosa, é que nos tornamos criaturas paranóicas e Deus foi transformado em alguém a ser temido e não em alguém a ser amado.
Quando estamos vivendo de forma correta, justa, então buscamos a Deus, nos colocamos diante da sua presença, temos coragem de rezar, louvar e também pedir, mas basta cometermos algum erro mais grave para imediatamente nos afastarmos Dele, nos escondermos, nos considerarmos indignos, convencidos de que por não sermos merecedores, não teremos sua companhia. Por estarmos em pecado muitas vezes deixamos de ir a missa, ao grupo de oração pois lá Deus estará para nos ver... de perto... bem de perto... (que falta faz uma trilha sonora agora).
O fato, é que temos que aprender que é justamente o contrario, quanto maiores são nossas falhas e culpas, mais e mais Deus quer nos receber, mais necessitamos de sua misericórdia, mais e mais temos que ir em sua direção para sermos perdoados, acolhidos, amados.
No auge do pecado, tanto Maria Madalena quanto Zaqueu, receberam imenso amor por parte de Jesus. Tanto Pedro como Judas o trairam, num momento crucial, diga-se de passagem, e ambos sabiam o tamanho de suas mancadas. Pedro arrependido, venceu o medo e nadou até Jesus recebendo seu perdão, Judas, por sua vez, tomado pelo medo e culpa, tirou a propia vida.
Deus sabe tudo a nosso respeito? Sim! Segue e nos vigia 24 horas por dia? Com certeza! Mas quando compreendermos que isso tudo é motivo para amá-lo, a cada instante, nunca para temê-lo, desejaremos muito mais sua companhia, sua presença, felizes por sermos vistos, notados, observados e zelados por esse Deus imenso, apesar de nossas misérias.
Já que o medo é uma prisão, ser vigiado por Deus é a maior de todas as maneiras de ser livre.

enviada por Rogerio Feltrin